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Aline Pigozzi

Comunidade Santa Clara: uma ação empreendedora


Quando a evangelização de um povo começa pela vontade de gerar algo inovador

O último dia 12 de agosto foi especialmente importante para a Paróquia São Francisco e Santo Estêvão, do bairro Maria Virgínia, no Campo Limpo. Sua comunidade caçula, a Santa Clara, realizou uma grande festa para inaugurar o terreno destinado à construção de sua futura capela.

Neste dia, posterior ao dia de Santa Clara, aconteceu a Benção do Cruzeiro proferida pelo bispo diocesano Dom Luís Antonio Guedes, marcando o terreno como local de uso santo. E, também, foi celebrada a primeira Missa Solene da comunidade, em honra à sua padroeira.

Distante a 1,5km de sua matriz, a Comunidade Santa Clara já está presente no bairro do Jardim Paris há quatro anos. Ela foi fundada no 1º domingo da Quaresma de 2013, na garagem de uma casa. E é fruto da vontade empreendedora de seu pároco em dar continuidade a uma bonita história de fé e dedicação, que havia sido interrompida em 2010.

Como tudo começou

Antes de se tornar território paroquial da São Francisco, a Rua Manoel Pedro de Almeida e vizinhança faziam parte da Paróquia São José Operário, do Pirajussara, desde 1969.

Na época em que Padre Francisco Consorti foi pároco da São José, na década de 1990, uma pequena comunidade foi dedicada a São Benedito. Mas, em 1999, quando Padre Ezaques Tavares assumiu o paroquiato da São José, a comunidade contava com a participação de pouquíssimas pessoas. Então, na tentativa de dar nova vida a ela, o padre e seus integrantes reestruturaram a comunidade.

Entre as mudanças que ocorreram, a principal delas foi o santo padroeiro da comunidade, que agora seria Nossa Senhora das Graças. O nome foi escolhido por Ivonete Simão de Sousa, uma senhora muito devota, que havia ganhado uma imagem da santa e logo a ofereceu para fundação da nova comunidade. Também ofereceu a garagem da sua casa para ser a capela provisória e aceitou, por 10 anos, ser a coordenadora da Nossa Senhora das Graças.

Com o passar dos anos, a necessidade por um espaço maior foi crescendo e, após sete anos de arrecadação e com ajuda da Cúria Diocesana, em 2006, Padre Ezaques comprou uma casa na mesma rua em que ficava a de Dona Ivonete.

Com muita alegria, a comunidade passou a utilizar aquele espaço para suas atividades. No entanto, o pároco aproveitou por pouco tempo a conquista, porque em 2007 foi enviado para outra paróquia. Em seu lugar, chegou Padre Adilson Ulprist, que deu continuidade aos trabalhos.

O fim da caminhada

Após 11 anos de ativo trabalho no Jardim Paris, a Comunidade Nossa Senhora das Graças sofreu um grande abalo.

Em 2010, algumas denúncias da vizinhança à Subprefeitura de São Paulo, com a justificativa de que o barulho das missas os incomodava, resultou em uma grande multa à Paróquia São José Operário.

Além disso, a Prefeitura também informou que naquela rua não poderia haver pontos comerciais, como foi caracterizada a igreja. Sendo assim, Padre Adilson optou pelo fechamento da comunidade e pela venda da casa.

Foi um choque para todos os paroquianos, em especial Dona Ivonete, que dedicou todo aquele período em serviço a Deus. “Tentamos voltar com as celebrações nas casas, mas a comunidade ficou muito abalada, então as missas deixaram de acontecer”, explicou Sandra de Sousa Ralheonco, 44 anos, filha de Dona Ivonete.

Outras tentativas em busca de um novo espaço para a comunidade aconteceram, porém, sem sucesso. E, para maior tristeza daqueles moradores, em junho de 2015, Dona Ivonete faleceu aos 77 anos e não pode presenciar as boas novas que estavam por vir.

A luz de uma esperança

A notícia sobre o fechamento da Comunidade Nossa Senhora das Graças logo se espalhou, chegando até a Paróquia São Francisco, que está do outro lado da região do Campo Limpo, em relação ao Jardim Paris.

Padre Alessandro Carvalho, quando soube, foi oferecer ajuda ao Padre Adilson para que pudessem encontrar meios de salvar a comunidade. Mas o então pároco da São José Operário já havia tentado de tudo. “Então passe para mim essas ruas, porque eu vou tentar fazer algo diferente por lá”, disse Padre Alessandro ao outro padre, com um pensamento visionário.

E assim aconteceu. Em dezembro de 2012, o bispo Dom Luís assinou o decreto de mudança do território paroquial da São José Operário, transferindo algumas ruas para a São Francisco.

No ano seguinte, em 2013, a Comunidade Santa Clara surgiu com a missão de resgatar a fé daquela comunidade, que já havia perdido as esperanças por duas vezes. “As igrejas devem estar perto das pessoas. Pequenas comunidades, mas todas muito certas do Amor de Deus. Por isso esse empenho todo”, declarou Padre Alessandro na celebração do dia 12.

Segundo ele, Santa Clara foi escolhida como padroeira da nova comunidade porque, primeiro, é uma santa franciscana e foi discípula de São Francisco; segundo, para desvincular com a experiência anterior que não havia dado certo; e terceiro, para preservar a possibilidade de a São José começar uma nova história com o nome de Nossa Senhora das Graças.

Foi o que aconteceu em 2015, quando alguns paroquianos retomaram a comunidade dentro de um conjunto habitacional, no Jardim Leônidas Moreira.

Rumo ao novo caminho

Começar uma comunidade do zero, em meio ao atual cenário do país, foi um ato audacioso. Como todo bom empreendimento, foram precisos quatro anos de muito trabalho e mobilização para dar vida à iniciativa.

“Já teve dias em que eu deixei de almoçar com a minha mãe para rezar Missa de Natal e só tinha eu e mais duas pessoas. Mas, se eu não fizesse isso, a comunidade não iria se apropriar do projeto”, revelou o pároco da Santa Clara.

Determinado, em fevereiro deste ano Padre Alessandro conseguiu comprar o terreno ao lado da casa de Dona Ivonete. Local que já havia sido muito utilizado nas festas da antiga comunidade e era cobiçado para ser o espaço da capela.

“Há alguns meses, o padre pediu para que toda a família estivesse presente na missa da comunidade. Lá, ele anunciou a compra do terreno e atribuiu essa graça à minha mãe, dizendo: ‘Foi um milagre de Dona Ivonete! Com certeza, ela deu uns cutuques em Deus e, com certeza, está fazendo festa lá de cima”’, relatou Sandra Ralheonco.

Agora, Padre Alessandro trabalha para levantar uma capela provisória em madeira até novembro deste ano. Futuramente, será construída uma igreja definitiva em alvenaria, com um projeto de altares laterais que contarão a história da comunidade desde os anos 1990, em homenagem àquela região.

Para os moradores que passaram a pertencer à nova paróquia, a recepção foi calorosa. Das filhas de Dona Ivonete, Flávia já é linha de frente da Santa Clara, enquanto Fátima promete se dedicar aos cuidados da capela. Sandra, apesar de se sentir parte da São José Operário, está dando total apoio para o fortalecimento da comunidade.

Por isso, Padre Alessandro agradece: “Muito obrigado, Deus, pelas pessoas que soprastes para servir nesta comunidade. E a todos que nos abraçaram e acolheram. Que Santa Clara seja luz para nós trabalharmos e fazermos acontecer nossa comunidade”.

Agora, a Comunidade Santa Clara, com a Comunidade Santo Estevão e a matriz São Francisco, fazem parte do projeto “Comunidades Solidárias”. Foi a primeira paróquia que aderiu ao Movimento Empresário Cristão, na busca pelo desenvolvimento de uma sociedade de confiança e da cultura de paz.

Fotos: Acervo pessoal de Aline Pigozzi


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