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  • Writer's pictureLandi Dantas

E se o remédio for bom?


UM SONHO, A CURA QUE PODERÁ VIR DE NOSSAS FLORESTAS


“E junto do ribeiro, à sua margem, de uma e de outra banda, subirá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer; não cairá a sua folha, nem perecerá o seu fruto; nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; e o seu fruto servirá de alimento, e a sua folha, de remédio.” Ezequiel 47:12


Quando teremos as respostas?



Quinina: 470 anos de história, controvérsias e desenvolvimento

Alfredo Ricardo Marques de Oliveira*; Daiane Szczerbowski

Departamento de Química, Universidade Federal do Paraná, CP 19081, 81531-990 Curitiba - PR, Brasil



CONQUISTAS, POLÍTICA E RELIGIÃO


1638 - A história registra que neste ano, a condessa de Chinchón, esposa do vice-rei espanhol no Peru, foi acometida de forte febre terçã. Ao ingerir uma poção feita pelos índios chamada "quina-quina" a febre cedeu e a continuidade do tratamento a deixou curada. Este evento pode ser estabelecido como o início de uma história de desenvolvimentos, experimentações e enganos, envolvendo alguns dos maiores nomes da ciência dos últimos 470 anos.


A partir deste relato, padres jesuítas da missão espanhola levaram o pó para a Europa para vendê-lo como um medicamento, que depois ficou conhecido como "pó dos jesuítas". Em 1679, o Rei Charles II da Inglaterra foi vitimado por uma forte febre, porém sendo protestante, preferia morrer a tomar um medicamento católico, por melhor que ele fosse. Neste contexto, surge Robert Talbor com um medicamento "protestante" que o rei não hesitou em tomar. Ficou curado e como agradecimento sagrou Talbor, cavaleiro e médico real. Alguns anos depois foi revelado que o remédio protestante de Talbor era na verdade o "pó dos jesuítas" apenas em uma formulação diferente.


Hoje sabemos que o mal que afligiu a condessa e o rei, era a malária. Este nome tem origem na expressão italiana "mala aria" (ar ruim), pois se acreditava que a doença era transmitida pelo ar contaminado proveniente de pântanos e esgotos. Na verdade a malária é causada pelo protozoário Plasmodium falciparum, descrito em 1880 pelo médico francês Charles Louis Alphonse Laveran, sendo transmitida pela picada das fêmeas do mosquito do gênero Anopheles.3

A árvore de Cinchona tem cerca de 20 m de altura, pertence à família das Rubiáceas, que possui entre outros membros, o café e as gardênias. Os europeus, em homenagem à condessa Chinchón, classificaram o gênero como Cinchona do qual as espécies mais importantes são: Cinchona ledgeriana, C. officinalis, C. calisaya e C. pubescens .


Até 1820, apenas um pó feito com as raízes da árvore era comercializado. Nesse ano, Pelletier e Caventou isolaram deste pó,4 um alcaloide com extrema atividade contra a malária, ao qual deram o nome de quinina. Após a descoberta, inúmeros métodos foram desenvolvidos para extrair o alcaloide e vendê-lo como medicamento. A extração e exportação para a Europa era um processo tão lucrativo que o governo peruano proibiu a exportação de semente de Kina (nome indígena da árvore) para manter o controle sobre este mercado. No entanto, ingleses e alemães contrabandearam algumas sementes e formaram novas plantações: os alemães na ilha de Java, Indonésia e os ingleses na Índia e no Ceilão (Sri Lanka). Para azar dos contrabandistas, as sementes contrabandeadas não eram das espécies que possuíam as maiores porcentagens de quinina (C. calisaya pelos alemães e de C. pubescens pelos ingleses) e assim a extração das árvores amazônicas continuou. Finalmente, os alemães compraram por US$ 20,00 uma libra de sementes (453,592 g) de Cinchona ledgeriana, que possui a maior porcentagem de quinina e rapidamente estabeleceram plantações extensivas desta espécie, dominando o mercado mundial. Em 1918, a maior parte do mercado mundial era suprido pelos alemães que obtiveram enormes lucros com este comércio, enquanto o Peru e a Bolívia, de onde o medicamento foi originado, quase nada receberam.


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